As magrelas de Paris













Em Paris é bom suar.

As magrelas de Paris. Onde você for em Paris vai ver alguém pilotando uma bicicleta cinza. Os tipos humanos mais variados e inesperados, engravatados, senhores de idade, gordinhos, fashion victims com sacolas de grife madames com seus cachorrinhos na cestinha, russos esparrentos, emos, hippies e cavinatos, de tudo circula por Paris em duas rodas.
O Vélib’, self-service quase gratuito de bicicletas da prefeitura, que começou a funcionar em julho de 2007, é um grande sucesso. Funciona simples assim: você vai até uma das mil e duzentas estações do serviço espalhadas pelas ruas da cidade e compra uma assinatura no terminal eletrônico, obrigatoriamente com um cartão de crédito. Pode ser para um dia, uma semana ou um ano. Para a de 24 horas, paga-se apenas €1 euro. A de um ano custa apenas €29. Com o cartão de assinatura na mão é só escolher a bicicleta pelo número, colocar no terminal a senha que você reistrou e o camelo escolhido é liberado automaticamente.
A primeira meia hora é de graça, a segunda custa €1 e o preço aumenta bem de mansinho. Você pedala feliz por Paris e, quando sua poupança estiver quadrada, engata a bicicleta na estação mais próxima. Tudo garantido pelo seu cartão de crédito, que será descontado em €150 se você inventar de não devolver o patrimônio à prefeitura de Paris.
O fato de a assinatura de um dia custar tão pouco engajou a turistada no projeto e, realmente, locomover-se de bicicleta por Paris é uma barbada, muito mais barato e rápido - se a distância for curta - do que pegar o metro, que custa €1,60. Mas o principal cliente do Velib’ é o parisiense, aquele sujeito que anda com o baguete embaixo do braço. E para isso todas as bicicletas tem uma cestinha para o seu pão, poodle ou sacolinha da Fnac, além de luzes de sinalização, buzina trim-trim e até corrente com fechadura. O negócio funciona que é um aço.
“Ah”, diria você agora, “mas no primeiro mundo as coisas são diferentes”. Até são, meu caro Watson, mas nem tanto.
Desde a sua inauguração, mais ou menos um ano atrás, três mil das 16 mil bicicletas do Velib’ desapareceram. Há notícias de reaparecimento de uma delas na Romênia. Além de outra que materalizou-se na Austrália, veja só. Além disso, outras três mil foram destruídas ou danificadas.
A conta é de 37,5% das magrelas fora de circulação, número bem terceiro-mundista que, se consolidado em Porto Alegre, ilustraria capa da Zero Hora com foto do secretário municipal lamentando a falta de educação do povo.
Mas não, os parisienses não desitiram da idéia, nem jogaram a responsabilidade do percentual acima nos ombros dos turistas terceiro-mundistas, ou dos imigrantes negros da cidade-luz. A coisa foi adiante e hoje a bicicleta cinza já é uma característica nova e marcante das ruas centrais de Paris.












Finlândia, Estados Unidos e Austrália planejam sistemas similares. O que me leva a suspeitar que foi o prefeito de Sidney quem roubou a tal bicicleta que apareceu entre os cangurus.
Mas nem tudo são flores. Os motoristas reclamam do repentino aparecimento de milhares de novos ciclistas na cidade, muitos deles sem habilidades duas-rodísticas. Reclamam do espaço que as estações do Velib’ roubaram dos estacionamentos públicos.
Reclamam das ciclovias. Reclamam mas não tem jeito, veio para ficar. O próximo passo da prefeitura é colocar carros elétricos no mesmo esquema de aluguel e assim contribuir ainda mais para a despoluição do ar da cidade. E, vejam só, o serviço deu um lucro de €20 milhões no primeiro ano com custo zero para os contribuintes.
Como isso foi possível? Simples: parcerias público-privadas, companheiro. A gigantesca operadora de mídia externa JCDecaux pagou por tudo em troca de mil e seiscentos espaços de publicidade em Paris. O que nos leva a concluir que além de gigantesca ela também é inteligente, pois ganhou território valioso em uma das cidades mais importantes do mundo conectando o seu nome a essa iniciativa nobre, simpática, auto-sustentável e despoluidora.
Ou seja, roubo e vandalismo não são privilégio brasileiro, mas uma praga que não livra nem a cara dos países desenvolvidos. Empresas de publicidade podem contribuir com um mundo melhor e ainda ganhar dinheiro com isso. Prefeitos criativos tornam suas cidades melhores. Motoristas são rabujentos e egoistas dos dois lados do oceano. E bicicletas são legais.

(artigo interessante,fonte desconhecida)

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